sexta-feira, 15 de julho de 2011

Entrevista:

1°) Nome, formação profissional e as áreas de atuação?

Nome: Nelma de Cássia Silva Sandes Galvão.
Formação profissional: Psicóloga, Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia.
Áreas de atuação:
Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.
Psicologia da Educação; Psicologia da Aprendizagem; Educação inclusiva e necessidades educacionais especiais; Neuropsicologia.

2°) Quais as características de uma pessoa ansiosa e de pessoa depressiva?

A ansiedade é um estado mental natural ao ser humano. Manifesta-se corporalmente através de sensações físicas provocadas pela possibilidade futura de determinados acontecimentos. Por exemplo, uma pessoa diante da possibilidade de participar em uma seleção para um trabalho novo, irá ficar ansiosa, podendo manifestar no corpo sinais como: o coração acelerado, aumento da sudorese, e etc. Uma reação natural diante do imprevisto. Ou seja, a ansiedade a princípio é esperada no ser humano, podendo inclusive ser uma ação motivadora para atitudes mais pró-ativas diante da vida. Um pouco de ansiedade faz bem, entretanto, a depender da intensidade com que se manifesta pode demandar cuidados.
Resgatando a definição dos manuais psiquiátricos - DSM- IV e CID 10 - sobre a ansiedade como transtorno, é possível observar que a característica principal deste estado mental é a preocupação excessiva diante dos acontecimentos cotidianos. A pessoa é invadida pela tensão que estes pensamentos provocam e passa a apresentar os seguintes sintomas: inquietação, fadiga excessiva, dificuldade para realizar tarefas que necessitam de concentração, irritação, musculatura tensa, insônia.
Vale ressaltar que estas características descritas acima só são consideradas um Transtorno Psiquiátrico, denominado com Transtorno de Ansiedade Generalizada, quando permanecem por mais de 6 meses causando o impedimento das atividades cotidianas.

A depressão por sua vez, também pode ser compreendida como uma reação natural do ser humano diante de situações de perda, de frustração, entre outras, que tenham sido vivenciadas como um momento de grande pressão. Por exemplo, uma pessoa que ao correr em uma maratona não consegue terminar a prova, fica frustrada e pode permanecer triste, desmotivada para as atividades físicas por alguns dias, até poder recuperar o seu humor e voltar a sua motivação normal pelo esporte. O que caracteriza de maneira mais geral os estados depressivos são as alterações de humor, ou seja, a pessoa modifica o seu estado geral de lidar emocionalmente consigo mesmo e com os outros.
Para a literatura psiquiátrica considerar os estados alterados de humor como uma doença/transtorno é preciso que este estado geral se estenda por mais de 2 meses, sendo denominado como Transtorno Depressivo Maior. As características principais seriam a apatia, o desinteresse, a ausência de motivação para realizar as atividades cotidianas (por exemplo: comer, tomar banho, trabalhar e etc..) impedindo a pessoa de ter uma vida com qualidade.

Resumindo, todos nós estamos suscetíveis a estados de ansiedade e depressão, mas precisamos ficar atentos à intensidade com que se manifestam. Vale ressaltar que nem sempre nos damos valor das instabilidades sozinho, muitas vezes as pessoas que estão ao nosso redor sinalizam primeiro sobre as nossas atitudes.



3°) Três dicas para diminuir o stress do dia a dia e três dicas para não deixar a depressão chegar?


Atualmente, as pesquisas na área da neurociência demonstram que as nossas emoções estão relacionadas ao Sistema Límbico, que para funcionar envolve as células nervosas, os neurônios, e as trocas químicas e elétricas que existem entre eles. Quando falamos então de estados mentais como depressão e stress, estamos também falando de alterações corporais. Sendo assim, se as emoções se manifestam no corpo é preciso que este corpo esteja saudável para sustentar as exigências emocionais que as vivências na sociedade atual exigem das pessoas. Cuidar do nosso corpo: alimentar-se de forma saudável, praticar atividades físicas que melhorem a nossa condição cardíaca e circulatória é cuidar das nossas células nervosas deixando-as fortes e flexíveis para a vida cotidiana.

Mas atenção: quando estas células nervosas são exigidas de forma intensa, em situações de grande pressão ou stress, elas deixam de reagir de forma adequada. Por exemplo, um aluno que na escola é vítima de constante violência psicológica, vivendo cotidianamente uma situação de stress. Este fato poderá interferir no seu aprendizado, pois o stress constante pode, por exemplo, dificultar a comunicação entre os neurônios envolvidos no ato de memorizar. Outro importante cuidado diz respeito, portanto, as nossas escolhas profissionais e afetivas. É fato que os neurônios são estimulados a partir da interação que as pessoas têm com o ambiente em que vive, é o fenômeno chamado de plasticidade cerebral e quanto menos saudável afetivamente é este ambiente, mais vulnerável estamos a estados mentais geradores de transtornos como a depressão e a ansiedade.

Algumas dicas então seriam:
1. Para o stress: realize atividades físicas com regularidade; faça escolhas profissionais e de lazer que permitam garantir uma rotina saudável de sono e alimentação; circule por diferentes grupos de pessoas, ajuda a não hipervalorizar as dificuldades de relacionamento que surgem em grupos mais fechados.
2. Para a depressão: procure os relacionamentos afetivos saudáveis; aprenda a lidar com os seus limites, ou seja, não seja tão exigente com você mesmo; fique atento aos sinais de depressão e não vacile na procura de ajuda, tanto psicoterápica quanto psiquiátrica.


4°) Qual sua opinião, desse momento de valorização do profissional de Psicologia?

A psicologia tem como objetivo estudar a subjetividade humana, por isso é uma profissão que atua em diferentes frentes de trabalho. Aonde existirem pessoas se relacionando entre si o psicólogo pode contribuir para a construção de interações mais saudáveis.
Vejo a sociedade atual marcada por traços de grave individualismo, muitas pessoas estão preocupadas mais com o ter e menos com o ser, esta postura se reflete nas relações interpessoais, criando muros entre as pessoas. É preciso que possamos criar uma cultura de acolhimento e respeito à diversidade humana a fim de que as relações possam se construir a partir de outra lógica, a lógica do ser. As atividades corporais podem ajudar no resgate desta lógica quando se inserem na compreensão de que todo o corpo pode da sua forma, do seu jeito. O grande desafio é alcançar o pódio de superar-se, enquanto ser único que nasceu para a vida coletiva, para refletir o outro em si e ser refletido pelo outro. Acredito que o psicólogo pode ajudar nesta compreensão da subjetividade individual e coletiva.

Em função destas realidades presentes na sociedade contemporânea acredito que o profissional de Psicologia tem sido crescentemente valorizado.

terça-feira, 12 de julho de 2011