quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Entrevista: José Marcelo F. Fontes Júnior - Farmacêutico Bioquímico

1- Nome e formação profissional?

Nome: José Marcelo Freire Fontes Júnior
Formação: Farmacêutico Bioquímico

Pós graduação: Especialização em Política e Estratégia pela ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra) x UNEB.
Especialização em Prevenção da Violência, Promoção da Segurança e Cidadania pela RENAESP (Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública) X UFBA.

Local de Trabalho: Secretaria da Saúde do Estado da Bahia - SESAB

2- Quais as causas e os efeitos dos principais esteroides anabolizantes usado pelos esportistas?

Os hormônios esteróides anabólicos androgênicos (EAA), popularizados como anabolizantes ou "bombas" são drogas sinteticamente derivadas da testosterona, o hormônio sexual masculino. Nas últimas décadas o uso dos esteroides anabolizantes vem se tornando um problema de saúde pública, essas drogas vêm sendo utilizadas por atletas de elite, em maior parte, aqueles envolvidos em esportes de força e velocidade, para melhora do desempenho físico nas competições. Entretanto, o abuso dos esteroides anabolizantes passou a ser feito por frequentadores de academias, mais interessados nas alterações provocadas na composição corporal, observados com o aumento da massa magra e na redução da gordura subcutânea.

Porém, o uso dos esteroides anabolizantes, indiscriminadamente, causa uma série de efeitos colaterais. No bojo do uso abusivo, muitos efeitos deletérios são observados, na sua totalidade por disfunções dos vários sistemas fisiológicos. Recentemente, foi constatado que quase 100% dos usuários de esteroides anabolizantes apresentavam algum efeito colateral. Dentre eles, os mais comuns são acne, atrofia testicular, retenção hídrica, alterações do humor e ginecomastia. Além disso, existe grande alteração das variáveis bioquímicas com o uso dos esteroides anabolizantes, como hormônios do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, enzimas hepáticas, células do sistema hematopoietico e perfil lípidico sanguíneo.
Os EAA podem causar diversos efeitos colaterais, como psicopatologias, câncer de próstata, doença coronariana e esterilidade.

A aparência de um corpo saudável com os anabolizantes é apenas superficial, uma vez que diversas pesquisas já destacaram os efeitos adversos causados pelo uso inadequado dos esteróides anabolizantes. Entre os problemas de saúde já estudados, observou-se que no sistema cardiovascular pode ocorrer a elevação da pressão arterial, redução do HDL, trombose e arritmia. No fígado, constatou-se hepatotoxidade e câncer. Entre os problemas dermatológicos detectados estão as acnes e as estrias. Os anabolizantes podem alterar o sistema reprodutor, causando, por exemplo, hipertrofia da próstata, ginecomastia e impotência sexual nos homens e, nas mulheres, excesso de pêlos, engrossamento da voz, hipertrofia do clitóris e irregularidades no ciclo menstrual.

Em nível psicológico são relatados mudanças de humor, comportamento agressivo, depressão, hostilidade, surtos psicóticos e adições, ocorrendo, por vezes, um quadro semelhante à síndrome de abstinência .

Na medicina, os anabolizantes são utilizados geralmente no tratamento de sarcopenias, hipogonadismo, câncer de mama, osteoporose e deficiências androgênicas, déficits no crescimento corporal, dentre outras.

A utilização dos anabolizantes pode ser feita por meio da ingestão oral ou aplicação intramuscular. Os usuários costumam fazer o uso em ciclos, em que doses maiores são aplicadas progressivamente, com um intervalo de tempo que pode variar de 4 a 18 semanas . Entre vários compostos que geram efeito anabolizantes, no Brasil os mais utilizados são: Durateston (proprionato/fenilproprionato/isocaproato/caproato de testosterona; Organon, Brasil), Estradon-p (testosterona e estradiol; Organon, Brasil), Deca-durabolin (decanoanato de landrolona; Organon, Brasil), Winstrol (estanozolol; Zambon, Espanha), Deposteron (cipionato de testosterona; Sigma Pharma, Brasil), Primobolan (metenolona; Shering, México/Espanha/Alemanha), Hemogenin (oximetalona; Sanofi-Aventis, Sarsa/Hoechst Marion Roussel, Brasil) e produtos veterinários como Androgenol (testosterona animal; Hertape, Brasil), ADE (complexo vitamínico; Labovet, Hertape e Pfizer, Brasil), Estigor (nandrolona animal e ADE; Burnet, Argentina), Equipoise ou Equifort (undecilenato de boldenona; Purina, Brasil).

3- O GH (hormônio do crescimento) está sendo muito usado pelo público feminimo e as vezes orientados por médicos. Qual a sua opinião?
A terapia com GH em doses elevadas pode acarretar, de forma dose-dependente, resistência à insulina e pode desencadear também diabetes mellitus tipo 2 em pacientes predispostos, além de Acromegalia e aparecimento de traços acromegalóides. Acromegalia pode ser definida como um crescimento desproporcional em diversas vísceras, tecidos moles, órgãos internos e alguns ossos membranosos como os das mãos, pés, nariz e mandíbula. Além disso, em alguns indivíduos o GH diminui os níveis do hormônio T3 (ativo) enquanto aumenta a Tireóide inativa T4. Quando os valores de T3 são baixos o ritmo da síntese protéica pode diminuir, o que conseqüentemente pode diminuir também o anabolismo muscular. Nesse sentido, é importante manter alto a atividade da glândula tireóide. Para evitar este efeito indesejável do GH alguns atletas usam também o CYTOMEL (triyodotironina de sódio fabricado sinteticamente que se assemelhar ao tricodide-thyronine do hormônio tiróide natural (L-T3). E também administrado com esteróides anabólicos altamente androgênicos, como Hemogenin, Halotestin, Deposteron e outros.

4- Para esclarecimento e informação das pessoas. Quais as diferenças do medicamento de marca, do medicamento genérico e do medicamento similar?

1- Medicamento de marca ou referência: É o produto inovador, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente por ocasião do registro. É geralmente o primeiro remédio que surgiu para curar determinada doença e sua marca é bem conhecida. O laboratório que detém a patente do produto tem exclusividade para produzi-lo durante cinco anos. Depois deste prazo, os laboratórios que estiverem interessados poderão produzir medicamentos genéricos destas marcas.

2- Medicamento genérico: É um remédio idêntico ao produto de marca.. Isto é, pode ser trocado por este pois tem rigorosamente as mesmas características e efeitos sobre o organismo do paciente. A garantia é dada pelo Ministério da Saúde que exige testes de bioequivalência farmacêutica para aprovar os genéricos. Testes de bioequivalência servem para comprovar se dois produtos de idêntica forma farmacêutica, contendo idêntica composição, qualitativa e quantitativa, de princípio ativo, são absorvidos em igual quantidade e na mesma velocidade pelo organismo de quem os toma. Os genéricos podem substituir remédios de marca a critério médico e farmacêutico.

3- Medicamento similar: Contém o mesmo princípio ativo, apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência, mas não são bioequivalentes. Os similares não passaram por análises capazes de atestar se seus efeitos no paciente são exatamente iguais aos dos medicamentos de referência nos quesitos quantidade absorvida e velocidade de absorção.


José Marcelo Freire Fontes Júnior
Farmacêutico - SESAB/SAFTEC/DASF
CRF- 4747
email: jose.fontes@saude.ba.gov.br